Ciência
Algumas verdades sobre a desflorestação
A obra L’invention du colonialisme vert da autoria de Guillaume Blanc desfaz o mito de que os países do sul são os grandes responsáveis pela destruição do planeta.
Para prevenir futuras pandemias, devemos parar com a desflorestação e acabar com a venda ilegal de animais selvagens. Concorda? Claro que sim, o que há para não concordar? A questão principal é a seguinte: tomar estas ações resolverá o problema? E a resposta é, provavelmente não. Ajuda, mas há outro problema potencialmente maior perto de sua casa: o uso de recursos naturais do norte, especialmente a sua dependência da criação de gado.
A história de que as epidemias são um castigo por perturbar a ordem natural das coisas não é nova. Mas é uma reviravolta peculiarmente moderna e pós-colonial imaginar que a origem dessa perturbação está algures longe da maioria de nós – as partes do mundo ocupadas com densas florestas recentemente plantadas convenientemente coincidem com as partes mais pobres. E acontece que a narrativa pode estar a interferir com as nossas tentativas de nos protegermos de novas doenças, bem como dos esforços para enfrentar as alterações climáticas e a erosão da biodiversidade.
Como argumenta o historiador ambiental francês Guillaume Blanc no novo livro que ainda não foi traduzido para o inglês,” L’invention Du Colonialisme Vert”, a ideia de que a África já foi coberta por uma vasta floresta primária é um mito inventado pelos colonialistas no início do século XX. Durante vários milhões de anos, a mancha de árvores do continente aumentou e diminuiu conforme o clima aquecia e arrefecia. Com o aparecimento do Humano, abateram algumas árvores e plantaram outras, de modo a que, quando Denys Finch Hatton levou Karen Blixen para dar uma volta no seu Gipsy Moth – uma cena imortalizada no filme Out of Africa de Sydney Pollack de 1985 – as paisagens quenianas sobre as quais eles sobrevoaram foram totalmente esculpidas por humanos.
Fonte: The Guardian