Economia
Pensar o futuro: o mercado israelita
A edição de hoje é dedicada ao mercado israelita, um mercado em franco crescimento para a Marca Portugal e com especial interesse pelo Centro de Portugal, nomeadamente pelo legado judaico presente na região, sobretudo nas Aldeias Históricas de Belmonte e de Trancoso, bem como nas cidades da Guarda, Covilhã, Castelo Branco e Tomar. O enoturismo e a gastronomia são segmentos particularmente caros aos turistas israelitas.
Para nos ajudar a compreender o mercado israelita e a actual situação no país, no contexto da eclosão da pandemia Covid-19, partilhamos o texto e a visão da Dra. Irith Freudenheim, Attaché Económica da Embaixada de Portugal em Israel. Portugal tem-se afirmado no mercado israelita, nos últimos anos, como um dos destinos mais “cool”, com forte potencial de atractividade. Nesse sentido, há boas razões para acreditar que, num cenário pós-pandémico, a confiança no nosso país enquanto destino seguro seja uma realidade e que este mercado emissor tão importante para Portugal continue na senda de crescimento.
Texto da autoria de Irith Freudenheim
Attaché Económica da Embaixada de Portugal em Israel
Portugal é hoje um país na moda para os israelitas
A edição de hoje é dedicada ao mercado israelita em específico, bem como ao judaico em linhas mais abrangentes, uma vez que este ascende hoje a vários milhões, dispersos por 5 continentes.
Nos últimos anos Portugal entrou no rol “the coolest destination in Europe” aos olhos do turista israelita. Tendo em conta este aumento muito significativo de turistas que procuram o nosso país, precisámos aproveitar esta verdadeira “porta de oportunidade” que o turismo judaico e o enoturismo tem representado nesta curva ascendente. A orientação estratégica delineada nos últimos anos tem permitido diversificar a procura por Portugal como destino turístico para os setores Enoturismo e Herança Judaica, apresentando uma mudança no conceito Portugal destino sun & sea ao valorizar outros elementos da oferta portuguesa no plano turístico.
Player importante neste contexto, os meios de comunicação social israelitas têm participado ativamente em workshops que antecedem a abertura da feira de turismo IMTM em Telavive, e realizado diversas press e fam trips no contexto de ações comerciais desenvolvidas nos últimos anos e apoiadas pela ARTP Centro de Portugal para promoção do destino.
Contato direto com atores/agentes israelitas do setor turístico e imprensa local especializada tem proporcionado oportunidades concretas de parcerias empresariais entre os dois países.
Presença e apoio da ARTP Centro em todas as atividades e projetos coordenados por esta Embaixada, quer na Feira IMTM, deslocação de jornalistas, operadores de turismo e “opinion makers”, impulsionou um vasto conhecimento destes players pelo nosso vasto património (e atividades ligadas ao setor).
Reforçadas relações de cooperação institucional e de intercâmbio entre os dois países na área de turismo, tem tido importância instrumental na intensificação do intercâmbio jornalistas, operadores turísticos (fam & press trips) e projetos conjuntos no setor.
Destacamos ainda o lançamento do Projeto Twinning Wineries, oportunidade futura para geminação de vinhas e promoção do conceito que permitirá estabelecimento de contatos comerciais no âmbito do Enoturismo, da cultura, da gastronomia bem como de outras atividades económicas.
Um fator que tem fortemente contribuído para tornar Portugal o destino favorito de parcela significativa do universo de turistas israelitas pode ser conferido ao seu espirito inquisitivo e exploratório.
Importante frisar que a cultura local assenta muito no contacto pessoal e relação confiança, sendo dois aspetos que indubitavelmente fizeram toda a diferença na entrada com êxito neste mercado. Deve-se ter atenção especial para o fato Israel ser “mercado montra”, cujas reais potencialidades ultrapassam largamente os cerca de 10 milhões de israelitas, e como tal deverá ser considerado. Pese embora a motivação primeira para o israelita procurar Portugal não seja a religião, o facto do nosso país ter raízes judaicas seculares, que nos conferem algumas parecenças, quer na fisionomia quer nos hábitos, proporciona um sentimento de conforto, de quem se sente seguro, em casa.
O perfil do turista israelita adequa-se perfeitamente à oferta nosso país, nomeadamente, no que refere à curiosidade e permanente procura novos destinos, uma extrema variedade nas possibilidades de escolha de roteiros culturais, gastronómicos, agroturismo, desportivos (desportos radicais, surf…), oportunidades de compra, e o ainda relativamente pouco explorado roteiro da rede de judiarias, tudo facilitado por voos diretos e propostas equilibradas em termos de “custo-benefício”.
Significativa parcela do turista israelita já percorreu todas as capitais europeias, e quando regressam de Portugal referem com entusiasmo que, para além de Lisboa e Porto, fortes impressões foram deixadas das visitas “mágicas” a pequenas aldeias medievais perdidas no tempo, nomeadamente as que ainda apresentam marca da presença de um passado judaico.
O mercado israelita tem provado que é suficientemente promissor para justificar uma aposta ainda mais empenhada na sua consolidação da posição. Para além de turismo, nos últimos anos o israelita tem investido fortemente no mercado imobiliário, visando adquirir um pied a tèrre, estabelecer hotéis, bem como completos edifícios voltados para o airbnb.
Nenhum outro povo tem entre as suas características a de ser uma “wandering Nation” com a premente necessidade de estar sempre em movimento, o que poderá ser interpretado de várias formas inclusive para “escapar” ao clima de permanente cerco que aqui se vive.
Até o surgimento da pandemia Covid-19 e a suspensão da industria turística a nível mundial, o estabelecimento de voos diretos/regulares entre os dois países havia atingido seguramente um ápice – point of no return – nas relações entre os dois países, com até 3 voos diários.
A importância dos voos diretos entre Telavive – Lisboa viabilizou a apresentação dos numerosos atrativos que Portugal oferece ao público israelita. Neste contexto podemos equiparar a sensação do cidadão israelita de muitas vezes sentir que vive numa “ilha”, fronteiras das quais tem de se escapulir-se várias vezes ao ano. Até há poucos anos o turista israelita tinha visitado praticamente todas as capitais europeias, exceto Lisboa.
Hoje esta tese transformou-se numa narrativa do passado, uma vez que em busca de novos destinos seguros o turista israelita, e OTs locais, foram à busca de novas terras “onde as pessoas se sintam bem-vindas”. Descobriram Portugal para grupos, individuais, congressos, eventos, aventura e, bem como para um grupo bastante expressivo em números, o roteiro judaico.
Tornou-se assim um destino prioritário atenta novidade e qualidade oferta portuguesa coadjuvada com a intensificação de divulgação e marketing nosso país como destino por parte operadores viagem israelitas e portugueses.
A meta será pós Covid-19 deverá concentrar-se em canalizar para Portugal “êxodo” anual israelitas ao exterior. Trata-se de um imperativo já que temos de competir com países mediterrâneos que aqui estão não só “instalados” há mais anos, mas também investem mais na divulgação da sua oferta turística em aparatosas campanhas.
Divulgar aqui nossas diversas regiões com um espaço especial para oferta património judaico português e formas de colaboração com a Rede das Judiarias e instituições culturais e económicas nosso país fará parte deste novo script.
No cenário pós corona, será de prever que o israelita estará em busca de destinos que o façam “sentir-se em casa”, seguro no que tange a questão da higiene, e que possibilitem descobertas de novas paragens com mais cautela do que no passado.
Certo é que, em média, o israelita viaja 3 vezes por ano e neste momento está desejoso que as fronteiras abram para poder regressar aos seus hábitos e embora com a pandemia Covid- 19 tenha afetado a economia dos israelitas, estamos a falar de um país que tem no seu ADN recuperar e adaptar-se rapidamente às contingências. O sistema social israelita é muito diferente do português, as empresas não têm vínculos contratuais com os seus colaboradores tão rígidos como os nossos, pelo que adivinha-se que, os agentes de turismo permaneceram em standby, mas não encerram, pelo que recuperarão a sua atividade normal assim que a atividade económica começar a dar sinais de retoma.
A comunicação é extremamente importante para este povo e a certeza de que em Portugal todas as medidas de segurança higiénico sanitária estarão a ser cumpridas será um requisito constante por parte de operadores turísticos e outros agentes económicos.