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Pensar o futuro: o mercado francês

07.05.2020 • 10:48
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A edição de hoje é dedicada a França, um mercado emissor da maior importância para Portugal.

O Delegado do Turismo de Portugal em França e Luxemburgo, Dr. Jean Pierre Pinheiro, elabora um retrato extremamente aprofundado que aborda a actual situação no país, os efeitos devastadores da pandemia na economia francesa, o Plano Específico de Turismo, lançado pelo governo, em parceria com os diversos agentes do sector, e o comportamento dos consumidores pós-COVID-19. O futuro é ainda uma enorme incógnita. Para França e para o mundo.

Assista ainda à Tourism Trade Talk, promovida pelo NEST, dedicada ao mercado francês, que contou com a participação do Delegado do Turismo de Portugal em França.

Leia a situação actualizada do mercado francês no guia “COVID-19 – Mercados Externos”, publicado no portal Travel BI do Turismo de Portugal.

Notas para o Centro de Portugal
Situação macro económica
A partir de 9 de abril de 2020, com base na informação do INSEE, estima-se uma quebra da atividade e economia francesa em mais de um terço do PIB (-36%). Nos sectores principalmente de serviços (que representam 78% do PIB), a perda de atividade é estimada a -42%, com fortes contrastes: alguns serviços estão quase parados (alojamento e restauração) como alguns sectores das indústrias; por outro lado, as indústrias agroalimentares, estão a operar a um nível relativamente próximo do normal. O consumo das famílias também sofre uma perda de cerca de um terço (-35%).
Regista-se cerca de 9 milhões de ativos em desemprego parcial, com 85% do salário mantido. Este aspecto vai ser fundamental para a retoma da atividade turística. Uma das incógnitas será a capacidade económica dos consumidores franceses, das famílias para poderem viajar, nomeadamente para o estrangeiro.

Comportamento pós Covid?
Se bem que seja ainda cedo para nos pronunciarmos sobre os diversos cenários de retoma, estando ainda dependentes de diversas situações (situação sanitária em França e nos países destinos de férias dos franceses, abertura das fronteiras, relançamento do transporte aéreo e ferroviário…), foram publicados alguns estudos que nos deixam antever possíveis comportamentos.
Um primeiro estudo feito por Opinion Way, indica que 22% dos franceses pensavam passar férias no estrangeiro (antes do Covid19). Mas, destes 22%, agora, com a situação sanitária actual, 18% já decidiram alterar e privilegiar a França. Ou seja, a taxa da população francesa que tenciona passar férias no estrangeiro este verão passa a apenas 18%.

Limitações de viagens para o estrangeiro
O Seto, Sindicato dos Tour Operadores Franceses, suspendeu as partidas para a Ásia até ao dia 15 de Junho e partidas para outros destinos até dia 29 de maio.
Em preparação do Plano Específico de Turismo, anunciado por Emmanuel Macron, Presidente da Républica francesa, a Confederação de Actores de Turismo (CAT), publicou um estudo de previsão da actividade turística. Estima-se uma quebra da actividade turística em 85% até o final do ano 2020, todos sectores e actividades confundidas (incoming, outgoing, agv’s, To’s, empresas de animação turística, alojamento, transporte…)
Tomaram como hipótese o levantamento gradual do confinamento em maio-junho, acompanhado por uma abertura gradual e limitada de fronteiras durante o verão. Mas poderá ser pior se o confinamento for prolongado depois de 11 e maio ou se houver um regresso do vírus ainda este ano.

A França será o destino prioritário (ou exclusivo) para as férias de Verão
Alias, o Primeiro Ministro Edouard Phillipe, afirmou numa entrevista televisiva seguida por 9 milhões de franceses que julgava “não ser razoável planear férias além-fronteiras, declarações repetidas no próprio dia pelo Ministro da saúde Olivier Véron et dia 21 de abril pelo Ministro da Educação , Jean Michel Blanquer.
Dia 21 de abril os Deputados Didier Martin e Marguerite Deprez-Audebert apresentaram um texto, assinado por sessenta outros Deputados, pedindo aos Franceses que privilegiem o turismo em França no próximo verão.
Quanto aos destinos estrangeiros habituais: Espanha, Grécia, Tunísia, Portugal, Croácia, Itália, dependerão do levantamento gradual das restrições de saúde e da percepção da segurança sanitária que esses destinos e suas infraestruturas transmitirão.
Todavia, a má experiência e as grandes dificuldades enfrentadas pelos turistas franceses no início da pandemia, sugerem que os destinos de longo curso serão confrontados a médio prazo a um afastamento por parte dos potenciais turistas franceses, ao contrário os destinos de proximidade terão a preferência.

Privilegiar o target comunitário, mercado da saudade nos mercados emissores externos?
Atendendo a análise e perspectivas pouco positivas para este verão e último trimestre 2020, estamos convencidos que o segmento que constitui a população portuguesa residente no estrangeiro e luso-descendentes será uma opção a considerar para fazer férias em Portugal, nas nossas 7 regiões, com o focus de os levar para o interior, as ilhas e não forçosamente (ou não apenas), para os destinos mais habituais dessa comunidade (Porto, Lisboa, Algarve).

Transporte aéreo
Dos contactos que temos tido com as companhias aéreas, e do que elas própria podem ou querem dizer das perspectivas de retoma das operações, as notícias são relativamente tranquilizadoras. A maioria delas tencionam retomar progressivamente as operações, com possibilidade de retoma lentamente em meados de maio; e mais progressivamente até setembro onde poderão retomar parte significativa das operações.
O mercado francês tem muitos voos em tempo normal (600 voos por semana desde de 22 aeroportos franceses). Ainda não nos é possível comunicar a percentagem das operações que serão relançadas. Mas, a maioria sendo durante a época de verão IATA, claro que nunca poderemos recuperar a situação vs verão 2019.
As companhias aéreas estão paradas, não se sabe quando o tráfico aéreo voltara a normalidade, provavelmente só para 2022.
Podemos imaginar que, neste contexto, de voos reduzidos, os preços vão aumentar. As viagens de carro tornam-se novamente uma alternativa aos transportes aéreos, mais económicos, mais flexíveis e seguros do ponto de vista sanitário.

Jean Pierre Pinheiro
Coordenador de Turismo de Portugal em França & Luxemburgo

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