Economia
Pensar o futuro: o mercado irlandês
A edição de hoje é dedicada ao mercado irlandês e a Delegada do Turismo de Portugal na Irlanda, Dra. Susana Cardoso, elabora um retrato muito aprofundado e enriquecedor do actual panorama do mercado irlandês, apontando alguns sinais de esperança no futuro!
Assista também à “Tourism Trade Talk”, promovida pelo NEST, em que se debateu a situação do mercado irlandês e que contou com a participação da coordenadora da equipa do Turismo de Portugal na Irlanda.
Leia a situação actualizada do mercado irlandês no guia “COVID-19 – Mercados Externos”, publicado no portal Travel BI do Turismo de Portugal.
Irlanda: Situação Actual
Desde a meia noite de 27 de março que a Irlanda sujeita a medidas de confinamento total, em vigor até 5 de maio. Abertos continuam apenas os serviços considerados indispensáveis, tais como supermercados, farmácias, bombas de gasolina e takeaways. Os transportes públicos funcionam em horários reduzidos e destinam-se apenas a quem presta serviços essenciais. Escolas, restaurantes e pubs fechados. Muitas empresas em teletrabalho e com parte do seu staff em layoff. As agências de viagens não são exceção e três delas apresentaram falência desde o início da pandemia.
Um terço da população ativa – 700.000 pessoas – beneficia atualmente de apoio ao desemprego ou tem os seus ordenados subsidiados pelo estado.
Economistas irlandeses acreditam que o desemprego na Irlanda poderá alcançar os 25% no início do verão e a sua retoma apenas é expectável ao longo do próximo ano – assumindo um cenário de controlo da pandemia.
O FMI prevê uma contração do PIB de 6.8% em 2020 e um crescimento de 6.3% no próximo ano, enquanto que, relativamente à taxa de desemprego as previsões são 12% em 2020 e 8% em 2021.
Irlanda: Better Dreams Ahead
O Department of Foreign Affairs irlandês desaconselha a realização de viagens não essenciais e a entrada no país está sujeita a um período de isolamento de 14 dias. Não há previsão de datas para o levantamento das restrições atualmente impostas, designadamente no que à realização de viagens diz respeito. Quando tal acontecer, a recuperação do setor do turismo dependerá da capacidade aérea existente e da situação de saúde pública em que se encontrarem os mercados de destino.
A retoma da operação aérea está prevista para meados de junho / julho, não se sabendo ainda em concreto com que rotas e com que frequência. Note-se que a Irlanda assistiu nos últimos dois anos a um crescimento de acessibilidade aérea para Portugal. No verão de 2020 estavam previstos 115 voos semanais operados pela Ryanair, Aer Lingus e TAP para Lisboa, Faro e Porto. É improvável que o regresso se faça com o mesmo nível de operação.
A opinião generalizada no setor é que o regresso a alguma normalidade se faça a partir de setembro e de forma gradual. A Ryanair lançou no passado dia 11 de abril uma venda de bilhetes para setembro incluindo Lisboa, Porto e Faro. Uma boa notícia!
Outros sinais positivos são o anúncio para setembro de eventos de trade inicialmente previstos para abril: Irish Travel Trade Show a 2 de setembro em Cork e a 3 de setembro em Dublin; Mice Meet Up a 29 de setembro em Dublin ou a confirmação da data do congresso da ITAA (Irish Travel Agents Association) para 15-17 de outubro em Évora (passível de ser revisto em função do contexto).
Reganhar a confiança das pessoas no transporte aéreo e assegurar que o destino está preparado para oferecer segurança do ponto de vista sanitário serão fatores essenciais para a retoma. Será necessário informar o setor de turismo, os jornalistas e o público em geral sobre o que está Portugal a fazer nesse sentido.
Do ponto de vista do comportamento do consumidor são expectáveis algumas alterações. É possível que villas, apart-hotéis e pequenas unidades de alojamento se tornem mais apelativas. Destinos mais tranquilos e que proporcionem um contacto mais próximo com a natureza serão provavelmente valorizados em favor de ambientes mais urbanos e com grandes aglomerados populacionais.
Numa fase inicial de retoma, ainda em 2020, espera-se que golfe, well being e ‘sol de inverno’ sejam as principais motivações do mercado Irlandês para Portugal.
A procura pelo destino será condicionada pela operação aérea existente, por alterações no padrão do consumo de viagens decorrentes da experiência vivida com a pandemia e pela capacidade de adaptação da oferta instalada a novas regras de higiene que protejam a saúde dos seus clientes.