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A alma de um cozinheiro
Texto da autoria do Chef Diogo Rocha que, em 2019, ganhou a sua primeira estrela Michelin, ao comando da cozinha do disruptivo restaurante Mesa de Lemos, situado em Viseu. No dia em que os restaurantes reabrem as suas portas para uma nova realidade.
Texto da autoria do Chef Diogo Rocha, 1 Estrela Michelin
Restaurante Mesa de Lemos
“A alma de um cozinheiro…
Momentos que se repetem mas que nunca aconteceram pode ser um sentimento estranho de quem quer e ambiciona um Mundo…
Flashs de sorrisos, vontades, brindes, lágrimas, gargalhadas, críticas, descontrolo, controlo, inquietações, certezas e muitas vidas são momentos que desejávamos ver repetidos vezes sem conta mas que acabaram por não ser reais e são apenas fruto da imaginação da mente de quem viu o desejo conquistado mas não saboreado.
A equipa que é família e a família que é equipa mostrou ser capaz de contrariar standards e contruir um diferente caminho das referências gastronómicas existentes. Seguiram as convicções de um Chef que afiançava o sonho possível e juntava milhas e experiências na representação e divulgação do melhor que temos e somos, sem nunca perder a noção de que o caminho era em frente e muito suado.
Madrid, Berlim, Bruxelas, Londres, São Paulo, Reiquejavique e tantas outras cidades e países viram que Portugal tem no seu Centro, uma qualidade enorme aliada a uma diversidade única em tão aparente pequeno espaço geográfico. Foram visitantes deslumbrados da nossa região e ficaram embaixadores sem o saber, pelo que levaram e transmitiram. Alguns cruzaram-se cá ou lá comigo e fizeram-me um Chef feliz por ver a sua reação ao amor que o Centro lhes dava.
A riqueza de recursos é uma certeza que ignoramos e lamentamos sem querermos ver o óbvio. Mas haverá lá melhor vinho, queijos, pão, azeite, vinagres, peixe, enchidos, arroz, legumes, frutos e gentes que os nossos?!… Sabemos que não, assim como sabemos que não desistiremos e mostraremos que seremos capazes de muito.
Não acredito na palavra não pela sua negatividade e esforço-me para ser optimista e cheio de fé nas pessoas e nos portugueses de quem espero solidariedade, empenho e responsabilidade de não deixar ficar ninguém para trás e que se consumam e nos consumam como nunca fomos capazes de fazer mas que será inevitável para a sobrevivência dos nossos sonhos. Talvez os sonhos tenham ficado mais modestos mas que são tão difíceis como o aparecimento súbito de uma arca cheia de moedas de ouro nas nossas casas.
Garantias de que nunca vou perder a vontade de sonhar e de levar tantos outros ao meu lado, capazes de se sacrificarem pela ambição de os realizar. A dedicação e humildade continuarão a ser pilares de vida com as certezas de que o futuro pode ter dias maus mas os dias bons terão de ser em maior quantidade. A abdicação de momentos únicos irão continuar a existir em detrimento da nossa profissão que é muito mais que servir refeições.
O sonho colectivo que irá ser rápido e que daqui a um ano estaremos mais fortes e seremos mais, é certo que está ao nosso alcance e bem possível. Depende exclusivamente de todos. Comigo contem sempre e com a firmeza de um cidadão que pertence ao melhor e mais bonito país do Mundo, Portugal.”